quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A NOSSA IDENTIDADE NÃO É UMA MONOCULTURA DE EUCALIPTO

Não somos uma MONOCULTURA DE EUCALIPITO.

No dissabor político e econômico aprendemos a sonhar com a Suíça e a Noruega! A raiva “passa” ao citar, entretanto, somos brasileiros! Comparando com as monoculturas, somos muito mais parecidos com um lindo pomar de limoeiros, cajuzeiros, laranjais, coqueiros, goiabeiras e bananais.
   É compreensível ouvirmos discursos inflamados de vários compatriotas permeados de uma mistura de arrogância e ignorância,alimentado por um descontrole analítico, envolvidos por um sentimento desenvolvido muitas vezes por causa da revolta pessoal promovida em grande parte pelos dissabores políticos e econômicos no qual convivemos em nosso país, o grande gigante eternamente adormecido, principalmente quando pensamos na distribuição de renda injusta, reforma agrária e tributária que ainda não se concretizaram como uma política pública consistente na forma de valor. Papel diferente, e disso o nosso país não é nada adormecido, quando pensamos que a  construção histórica do Estado pós independência foi realizada a luz dos interesses da elite agrária –exportadora , também escravocratas, apoiados também  pelos grandes comerciantes interessados pela “liberdade” econômica que os novos tempos e propostas traziam. A elite citada construiu um Estado vinculado unicamente aos seus interesses econômicos não retirando dos seus alicerces os três séculos de colonialismo extrativista introduzido pelos portugueses e, sobretudo, não fizeram questão de apagar o passado escravista no qual se perpetuou por mais 66 anos, trabalhando com datas oficiais, da independência até a Lei Áurea.
   O nosso país é imensa e com uma farta riqueza econômica, natural e energética quase imensurável, entretanto, como explicar a tragédia social que nosso país esta vivendo? Estamos vivendo uma verdadeira anomalia social que não é ‘aceita’ ou não reconhecida, devido aos seus dividendos políticos, pelo governo e, sobretudo, a grande mídia que também é prisioneira da publicidade, negócio lucrativo, oferecido pelos  governos. Qual governo gostaria de reconhecer a sua própria incapacidade de gerir tantas diferenças socioeconômicas sob a forma das mazelas sociais que acompanhamos em nosso cotidiano? Nesse sentido, numa forma contraditória, lucram também vários canais televisivos através de programas sensacionalistas que exploram a violência desenfreada em nosso país sem qualquer intenção de politizar o povo. É digno de nota salientar e esclarecer que no mundo capitalista, sob a forma selvagem aqui praticada, que se apresenta em terras tupiniquins também se tornou uma importante fonte de renda para um grupo de empresários ligados a comunicação, ou seja, muitos lucram feito hospedeiros e oportunistas com a miséria do povo brasileiro criando programas populares apresentados normalmente por jornalistas polêmicos e descomprometidos com a ética.
   Aos poucos esclarecidos desse país quando analisam e comparam a nossa realidade social com os países do primeiro mundo e ao seu estágio “espiritual’, consciência, que esses povos atingiram cujos resultados se explicam em função das políticas educacionais dirigidas pelos seus governantes, geralmente homens visionários, que em conjunto de uma transparente administração baseada em princípios éticos, distante dos praticados pela maioria dos nossos representantes, acabam elevando os seus respectivos países a espetaculares patamares de desenvolvimento humano. Muitos brasileiros acabam por conta de uma análise equivocada e sem o compromisso com uma pesquisa científica que lhe respalde os seus argumentos com dados mensuráveis, acabam sempre relegando o Brasil ao desprezo profundo e desvalorizando tudo que já existe e reforçando no imaginário do povo brasileiro o preconceito velado ou inconsciente do seu próprio país. A presente análise aqui criticada  está  pautando a realidade brasileira a partir de uma comparação ao meu errônea com esses países,ditos primeiro mundo, sem qualquer intencionalidade de trazer para a  discussão uma análise que leve em questão, as historicidades de cada nação no qual utilizam para comparar. Uma análise ou argumento que não esteja pautada sob tais considerações imprescindíveis estaríamos apenas reforçando o preconceito e estimulando a discriminação dos distintos sujeitos históricos que construíram o nosso país, não valorizando a nossa própria história.
    A Noruega possui um modelo social bastante admirado pela ONU,baseado na saúde universal, que  valoriza também e investe no ensino superior mantendo assim um regime integrador de previdência social, fazendo da Noruega, segundo dados da ONU, como o melhor país para se viver  e o país mais pacífico do mundo. Dados suficientes para qualquer cidadão brasileiro que esteja revoltado com tantos impostos e serviços ruins prestados pelos governos municipais, estaduais e Federal de nosso país, então passe a desejar que nos tornemos uma “Noruega brasileira” aqui na porção portuguesa da América. Um pena que os nossos representantes tratar os problemas nacionais com fingimentos e irresponsabilidades.
        E foi pensando nisso que resolvi escrever esse artigo para esclarecer que essa utopia não será realizada sem que antes tomemos posse do sentido no qual nossa identidade nacional nos oferece em nosso contexto histórico de formação. Muito diferente do que ocorreu na Noruega escandinava cujo primeiro rei remonta ao ano 900, para usar uma análise que considerasse aqui uma pesquisa mais detalhada sobre a história dos vikings, grandes marinheiros e exploradores da época. Fica aqui a sugestão, por exemplo, aprofundarmos uma pequena pesquisa sobre mitologia nórdica que por sinal é muito antiga.
     Em termos demográficos estamos bem distantes dos quase 5 milhões de habitantes, em sua maioria bem altinhos /branquinhos e com olhos claros como os céus, desse número a maioria é de origem norueguesa entretanto, devido as suas relações econômicas , globais,com a União Europeia e América do Norte a partir de 2006 vem crescendo o número de canadenses, estadunidenses, alemães, poloneses e etc em áreas “vikings’ que até despertam um grande incômodo em alguns setores sociais dentro da Noruega que começam a discutir e defender a sua originalidade norueguesa dentro do seu território que possui uma área de 385 199 km² e para comparar com o Brasil apresento o nosso território 8 515 767,04 km² e veja bem possuímos também um número populacional bem expressivo estimado em 202 milhões de pessoas e cabe aqui uma pergunta, de teor filosófico, quantas Noruegas caberiam no Brasil?
    A expressão monocultura de eucalipto versus pomar brasileiro me surgiu ao assistir uma partida entre a Dinamarca e Noruega, e te garanto que no quesito futebol muitos defensores da Noruega, aqui no Brasil, não gostariam dessa inspiração para o nosso futebol pentacampeão brasileiro. Vale aqui salientar explorar a expressão nacionalista brasileira “pátria das chuteiras”, que apesar de ser ridicularizada ou odiada por muitos, é também amada por muitos brasucas, servindo como inspiração em época de copa do mundo e, sobretudo, atendendo até de forma consciente ou inconsciente ao apelo comercial explorado nesses momentos esportivos. A nossa seleção é reconhecidamente um orgulho nacional, sendo então digno de nota aqui mencionar, que tal atitude que faz parte do nosso universo cultural e, sobretudo, em nossa identidade nacional.
  Durante a partida fiquei reparando como são parecidos fazendo-me logo lembrar as minhas viagens na rodovia Dutra sentido Rio de Janeiro onde próximo as margens surgiram com muita força econômica as plantações de inúmeros eucaliptos, tão parecidos, algo inclusive mencionado pelo escritor e educador Ruben Alves em suas analogias educacionais. Essa inspiração me trouxe para analisar a riqueza e a limitação disso, por mais que pareça diferente. Em termos integradores, apesar de não serem 100 % originais, sabemos que a maioria da população do Reino da Noruega pertence a origem norueguesa e professam a fé luterana. Não podemos deixar de compreender a força do unitarismo como elemento explicativo.
  Agora pensemos o Brasil em sua composição social miscigenada iniciada desde os tempos da colonização chegaram aqui muitos portugueses influenciados culturalmente pela cultura árabe trazendo e impondo o catolicismo romano, aliás, devemos destacar que a própria Igreja Católica havia passado por um processo de sincretismo em seu encontro evangelizador com os povos ditos “bárbaros” se afastando de sua originalidade romanizada. E depois no contexto reformador sendo essa igreja trazida pelos jesuítas que influenciaram a nossa educação por muito tempo e impuseram sua religião aos inúmeros indígenas que já habitavam aqui, com suas crenças, costumes e heranças culturais tradicionais. Tudo isso se fundiu  com a vinda dos africanos, com a sua pluralidade cultural característica, como imaginar uma África singular as mudanças e permanências culturais intrínsecas a sua própria dinâmica de construção cultural?Tudo isso foi um grande encontro mediado pelos portugueses, indígenas e africanos originais e a aculturados (mudanças e permanências existentes) que se chocou também vinda dos inúmeros imigrantes a partir do século XIX que chegaram ao Brasil com seus sentimentos nacionais, perspectivas, sonhos, ideologias e trabalho. Somos o país do sincretismo, formando e adicionando novos elementos a nossa cultura.
   Para encerrar convido a todos para essa reflexão do quanto erramos em analisar e comparar o nosso país com o sucesso norueguês sem considerar o nosso próprio sucesso integrador criando uma cultura que absorveu várias tendências. Podemos sim sermos um exemplo como a Noruega e até melhor, entretanto, não podemos possuir as especificidades  que projetaram e construíram a Noruega, porque a identidade de um povo conforme citou o grande antropólogo Darcy Ribeiro, no seu livro  O POVO BRASILEIRO, está no íntimo de cada povo e o que faz um cigano se orgulhar que é um cigano, o índio de índio, um judeu ser um judeu. E nesse sentido devemos observar a nossa identidade sem rejeitá-la conforme fazem inúmeros brasileiros erradamente. Ainda perdemos muito tempo discutindo temas sem qualquer relevância e sobretudo, sem o olhar plural que obrigatoriamente deveremos aprender para que desenvolvamos a consciência de si e a consciência do outro, a alteridade.Tal fato promoveu um elemento diferenciador em nossa cultura que é pouco percebido em outros países,a tolerância religiosa por conta das várias manifestações religiosas existentes, apesar de estarmos longe do ideal.
   Somos um país que abriga diversas tendências religiosas, jamais teremos uma. Somos um país construído por diversas etnias, não esperaremos que tenhamos uma única. E nisso deveríamos reaprender com os gregos antigos, que por sinal ainda nos influencia na política, ciência, teatro, ciência, filosofia entre outras contribuições importantes que fazem parte do nosso cotidiano. Os gregos poderiam até brigar muito já que jamais no mundo antigo eles foram unificados, estavam divididos em inúmeras cidades-Estado, mas que o elemento cultural era um importante elo para superar as suas diferenças cotidianas e por causa desse elemento cultural, íntimos os faziam exercer a trégua durante os jogos olímpicos já que eles reverenciavam os seus deuses e, sobretudo, o principal e mais importante ZEUS.
   Nós não somos feito eucaliptos que crescem enfileirados, na verdade somos como um pomar recheado de riquezas culturais. Até temos o direito de não gostar do limão ou do abacaxi porque preferimos a goiaba, tudo bem cada um pode e tem direito a seguir a sua tribo, entretanto, não podemos deixar de contemplar esse rico pomar que se chama CULTURA BRASILEIRA. Essa cultura brasileira que apresentou ao mundo mitos como Pelé, garrincha, Ayrton Sena e outros atletas de vários esportes; de vários escritores reconhecidos no mundo inteiro o que dizer dos nossos talentosos Paulo Coelho e Jorge Amado? Santos Dumont, reconhecidamente o pai da aviação é brasileiro e não norueguês; E quanto aos inúmeros pesquisadores que vivem dentro do nosso país  ou fora dele vivendo em anonimato? Não estaria um brasileiro diretamente envolvido no sucesso da criação do Facebook?
     Como nação somos muitos jovens mal descobrimos a democracia, a verdadeira liberdade ainda não experimentamos e na verdade estamos nos adaptando a cada década, avançamos, por mais que não seja o ideal estamos ainda se acomodando afinal de contas são diversas tendências que precisam encontrar o seu lugar e se fixar, se aceitar e ser aceito. Respeitado! No momento ainda estamos nos preocupando com o beijo gay que passou na televisão,perdemos também tempo discutindo se uma pessoa pode ou não casar-se sendo homossexual; Questionamos e não respeitamos as preferências religiosas que não seja professada por nós; Ainda rejeitamos os ateus;Chamamos o instrumento musical macumba de despacho ou como oferenda de demônios conforme pregaram há quase 350 atrás. Existem outras situações que deveríamos para e repensar, porque ainda pensamos que somos monocultura de eucaliptos. Quando na verdade deveríamos discutir o que é família de uma forma global, o que desejamos para o futuro dos nossos jovens e as condições que prepararemos em nosso planeta para receber os novos jovens que nem ainda estão na barriga dos seus pais e sobretudo, que formato educacional utilizaremos.
   Chegaremos lá!a partir de um olhar plural sobre a nossa própria cultura, mesmo que  dentro do nosso intimo seja tão singular  e tão simplista de nossa trajetória. Na verdade crescemos a partir das oportunidades democráticas que fomos recebendo através de inúmeras lutas e é assim que lentamente vozes escondidas pela história escrita pela elite surgem e clama pelo seu espaço, uma identidade geral começou a surgir a partir das DIRETAS JÁ, mas de forma lenta e paulatina, é no processo histórico e não pelo ritmo da globalização que devemos mensurá-la e assim passo a passo vamos construir essa grande consciência pautada pela virtude e a ética. Os noruegueses começaram há quase mil anos e nós?Enfim, sejamos organizados e respeitosos como os noruegueses afinal de contas sempre vai existir espaço dentro da nossa cultura híbrida, sem jamais nos tornarmos uma MONOCULTURA DE EUCALIPTO.
  Vamos admirar os noruegueses, aprender com os seus erros e acertos, mas, sempre reconhecendo a nossa própria dinâmica cultura que assim como eles também possuímos. É necessário destacar que as orientações públicas devem sempre priorizar o tempo de longa duração na qual está enraizada a construção de qualquer cultura e tomar cuidado com modismos passageiros da curta duração.
   
  Marcos Paulo Campos da Costa