Não somos uma MONOCULTURA DE EUCALIPITO.
No
dissabor político e econômico aprendemos a sonhar com a Suíça e a Noruega! A
raiva “passa” ao citar, entretanto, somos brasileiros! Comparando com as
monoculturas, somos muito mais parecidos com um lindo pomar de limoeiros,
cajuzeiros, laranjais, coqueiros, goiabeiras e bananais.
É compreensível ouvirmos discursos inflamados de vários compatriotas
permeados de uma mistura de arrogância e ignorância,alimentado por um
descontrole analítico, envolvidos por um sentimento desenvolvido muitas vezes
por causa da revolta pessoal promovida em grande parte pelos dissabores
políticos e econômicos no qual convivemos em nosso país, o grande gigante
eternamente adormecido, principalmente quando pensamos na distribuição de renda injusta, reforma agrária e tributária que ainda não se concretizaram como uma política pública consistente na forma de valor. Papel diferente, e disso o nosso país não
é nada adormecido, quando pensamos que a construção histórica do Estado pós
independência foi realizada a luz dos interesses da elite agrária –exportadora
, também escravocratas, apoiados também pelos grandes comerciantes interessados
pela “liberdade” econômica que os novos tempos e propostas traziam. A elite
citada construiu um Estado vinculado unicamente aos seus interesses econômicos
não retirando dos seus alicerces os três séculos de colonialismo extrativista
introduzido pelos portugueses e, sobretudo, não fizeram questão de apagar o
passado escravista no qual se perpetuou por mais 66 anos, trabalhando com datas
oficiais, da independência até a Lei Áurea.
O nosso país é imensa e com uma farta riqueza econômica, natural e
energética quase imensurável, entretanto, como explicar a tragédia social que
nosso país esta vivendo? Estamos vivendo uma verdadeira anomalia social que não
é ‘aceita’ ou não reconhecida, devido aos seus dividendos políticos, pelo
governo e, sobretudo, a grande mídia que também é prisioneira da publicidade,
negócio lucrativo, oferecido pelos governos. Qual governo gostaria de reconhecer
a sua própria incapacidade de gerir tantas diferenças socioeconômicas sob a
forma das mazelas sociais que acompanhamos em nosso cotidiano? Nesse sentido,
numa forma contraditória, lucram também vários canais televisivos através de programas
sensacionalistas que exploram a violência desenfreada em nosso país sem
qualquer intenção de politizar o povo. É digno de nota salientar e esclarecer
que no mundo capitalista, sob a forma selvagem aqui praticada, que se apresenta
em terras tupiniquins também se tornou uma importante fonte de renda para um
grupo de empresários ligados a comunicação, ou seja, muitos lucram feito
hospedeiros e oportunistas com a miséria do povo brasileiro criando programas
populares apresentados normalmente por jornalistas polêmicos e descomprometidos
com a ética.
Aos poucos esclarecidos desse país quando analisam e comparam a nossa
realidade social com os países do primeiro mundo e ao seu estágio “espiritual’,
consciência, que esses povos atingiram cujos resultados se explicam em função
das políticas educacionais dirigidas pelos seus governantes, geralmente homens
visionários, que em conjunto de uma transparente administração baseada em
princípios éticos, distante dos praticados pela maioria dos nossos
representantes, acabam elevando os seus respectivos países a espetaculares
patamares de desenvolvimento humano. Muitos brasileiros acabam por conta de uma
análise equivocada e sem o compromisso com uma pesquisa científica que lhe
respalde os seus argumentos com dados mensuráveis, acabam sempre relegando o Brasil
ao desprezo profundo e desvalorizando tudo que já existe e reforçando no
imaginário do povo brasileiro o preconceito velado ou inconsciente do seu
próprio país. A presente análise aqui criticada está pautando a realidade brasileira a partir de uma
comparação ao meu errônea com esses países,ditos primeiro mundo, sem qualquer intencionalidade
de trazer para a discussão uma análise
que leve em questão, as historicidades de cada nação no qual utilizam para
comparar. Uma análise ou argumento que não esteja pautada sob tais
considerações imprescindíveis estaríamos apenas reforçando o preconceito e
estimulando a discriminação dos distintos sujeitos históricos que construíram o
nosso país, não valorizando a nossa própria história.
A Noruega possui um modelo social bastante admirado pela ONU,baseado na
saúde universal, que valoriza também e
investe no ensino superior mantendo assim um regime integrador de previdência
social, fazendo da Noruega, segundo dados da ONU, como o melhor país para se
viver e o país mais pacífico do mundo.
Dados suficientes para qualquer cidadão brasileiro que esteja revoltado com
tantos impostos e serviços ruins prestados pelos governos municipais, estaduais
e Federal de nosso país, então passe a desejar que nos tornemos uma “Noruega
brasileira” aqui na porção portuguesa da América. Um pena que os nossos
representantes tratar os problemas nacionais com fingimentos e
irresponsabilidades.
E foi pensando nisso que resolvi
escrever esse artigo para esclarecer que essa utopia não será realizada sem que
antes tomemos posse do sentido no qual nossa identidade nacional nos oferece em
nosso contexto histórico de formação. Muito diferente do que ocorreu na Noruega
escandinava cujo primeiro rei remonta ao ano 900, para usar uma análise que
considerasse aqui uma pesquisa mais detalhada sobre a história dos vikings,
grandes marinheiros e exploradores da época. Fica aqui a sugestão, por exemplo,
aprofundarmos uma pequena pesquisa sobre mitologia nórdica que por sinal é
muito antiga.
Em termos demográficos estamos
bem distantes dos quase 5 milhões de habitantes, em sua maioria bem altinhos
/branquinhos e com olhos claros como os céus, desse número a maioria é de
origem norueguesa entretanto, devido as suas relações econômicas , globais,com
a União Europeia e América do Norte a partir de 2006 vem crescendo o número de
canadenses, estadunidenses, alemães, poloneses e etc em áreas “vikings’ que até
despertam um grande incômodo em alguns setores sociais dentro da Noruega que
começam a discutir e defender a sua originalidade norueguesa dentro do seu
território que possui uma área de 385 199 km² e para comparar com o Brasil
apresento o nosso território 8 515 767,04 km² e veja bem possuímos também um
número populacional bem expressivo estimado em 202 milhões de pessoas e cabe
aqui uma pergunta, de teor filosófico, quantas Noruegas caberiam no Brasil?
A expressão monocultura de eucalipto versus pomar brasileiro me surgiu
ao assistir uma partida entre a Dinamarca e Noruega, e te garanto que no
quesito futebol muitos defensores da Noruega, aqui no Brasil, não gostariam
dessa inspiração para o nosso futebol pentacampeão brasileiro. Vale aqui
salientar explorar a expressão nacionalista brasileira “pátria das chuteiras”,
que apesar de ser ridicularizada ou odiada por muitos, é também amada por
muitos brasucas, servindo como inspiração em época de copa do mundo e,
sobretudo, atendendo até de forma consciente ou inconsciente ao apelo comercial
explorado nesses momentos esportivos. A nossa seleção é reconhecidamente um
orgulho nacional, sendo então digno de nota aqui mencionar, que tal atitude que
faz parte do nosso universo cultural e, sobretudo, em nossa identidade
nacional.
Durante a partida fiquei reparando como são parecidos fazendo-me logo
lembrar as minhas viagens na rodovia Dutra sentido Rio de Janeiro onde próximo
as margens surgiram com muita força econômica as plantações de inúmeros eucaliptos,
tão parecidos, algo inclusive mencionado pelo escritor e educador Ruben Alves
em suas analogias educacionais. Essa inspiração me trouxe para analisar a
riqueza e a limitação disso, por mais que pareça diferente. Em termos
integradores, apesar de não serem 100 % originais, sabemos que a maioria da
população do Reino da Noruega pertence a origem norueguesa e professam a fé
luterana. Não podemos deixar de compreender a força do unitarismo como elemento
explicativo.
Agora pensemos o Brasil em sua composição social miscigenada iniciada
desde os tempos da colonização chegaram aqui muitos portugueses influenciados
culturalmente pela cultura árabe trazendo e impondo o catolicismo romano, aliás,
devemos destacar que a própria Igreja Católica havia passado por um processo de
sincretismo em seu encontro evangelizador com os povos ditos “bárbaros” se
afastando de sua originalidade romanizada. E depois no contexto reformador sendo
essa igreja trazida pelos jesuítas que influenciaram a nossa educação por muito
tempo e impuseram sua religião aos inúmeros indígenas que já habitavam aqui,
com suas crenças, costumes e heranças culturais tradicionais. Tudo isso se
fundiu com a vinda dos africanos, com a
sua pluralidade cultural característica, como imaginar uma África singular as
mudanças e permanências culturais intrínsecas a sua própria dinâmica de
construção cultural?Tudo isso foi um grande encontro mediado pelos portugueses,
indígenas e africanos originais e a aculturados (mudanças e permanências
existentes) que se chocou também vinda dos inúmeros imigrantes a partir do
século XIX que chegaram ao Brasil com seus sentimentos nacionais, perspectivas,
sonhos, ideologias e trabalho. Somos o país do sincretismo, formando e
adicionando novos elementos a nossa cultura.
Para encerrar convido a todos para essa reflexão do quanto erramos em
analisar e comparar o nosso país com o sucesso norueguês sem considerar o nosso
próprio sucesso integrador criando uma cultura que absorveu várias tendências.
Podemos sim sermos um exemplo como a Noruega e até melhor, entretanto, não
podemos possuir as especificidades que
projetaram e construíram a Noruega, porque a identidade de um povo conforme
citou o grande antropólogo Darcy Ribeiro, no seu livro O POVO BRASILEIRO, está no íntimo de cada
povo e o que faz um cigano se orgulhar que é um cigano, o índio de índio, um
judeu ser um judeu. E nesse sentido devemos observar a nossa identidade sem rejeitá-la
conforme fazem inúmeros brasileiros erradamente. Ainda perdemos muito tempo
discutindo temas sem qualquer relevância e sobretudo, sem o olhar plural que
obrigatoriamente deveremos aprender para que desenvolvamos a consciência de si
e a consciência do outro, a alteridade.Tal fato promoveu um elemento
diferenciador em nossa cultura que é pouco percebido em outros países,a
tolerância religiosa por conta das várias manifestações religiosas existentes,
apesar de estarmos longe do ideal.
Somos um país que abriga diversas tendências religiosas, jamais teremos
uma. Somos um país construído por diversas etnias, não esperaremos que tenhamos
uma única. E nisso deveríamos reaprender com os gregos antigos, que por sinal
ainda nos influencia na política, ciência, teatro, ciência, filosofia entre
outras contribuições importantes que fazem parte do nosso cotidiano. Os gregos
poderiam até brigar muito já que jamais no mundo antigo eles foram unificados,
estavam divididos em inúmeras cidades-Estado, mas que o elemento cultural era
um importante elo para superar as suas diferenças cotidianas e por causa desse
elemento cultural, íntimos os faziam exercer a trégua durante os jogos
olímpicos já que eles reverenciavam os seus deuses e, sobretudo, o principal e
mais importante ZEUS.
Nós não somos feito eucaliptos que crescem enfileirados, na verdade
somos como um pomar recheado de riquezas culturais. Até temos o direito de não
gostar do limão ou do abacaxi porque preferimos a goiaba, tudo bem cada um pode
e tem direito a seguir a sua tribo, entretanto, não podemos deixar de
contemplar esse rico pomar que se chama CULTURA BRASILEIRA. Essa cultura
brasileira que apresentou ao mundo mitos como Pelé, garrincha, Ayrton Sena e
outros atletas de vários esportes; de vários escritores reconhecidos no mundo
inteiro o que dizer dos nossos talentosos Paulo Coelho e Jorge Amado? Santos
Dumont, reconhecidamente o pai da aviação é brasileiro e não norueguês; E
quanto aos inúmeros pesquisadores que vivem dentro do nosso país ou fora dele vivendo em anonimato? Não
estaria um brasileiro diretamente envolvido no sucesso da criação do Facebook?
Como nação somos muitos jovens
mal descobrimos a democracia, a verdadeira liberdade ainda não experimentamos e
na verdade estamos nos adaptando a cada década, avançamos, por mais que não
seja o ideal estamos ainda se acomodando afinal de contas são diversas
tendências que precisam encontrar o seu lugar e se fixar, se aceitar e ser
aceito. Respeitado! No momento ainda estamos nos preocupando com o beijo gay
que passou na televisão,perdemos também tempo discutindo se uma pessoa pode ou
não casar-se sendo homossexual; Questionamos e não respeitamos as preferências
religiosas que não seja professada por nós; Ainda rejeitamos os ateus;Chamamos
o instrumento musical macumba de despacho ou como oferenda de demônios conforme
pregaram há quase 350 atrás. Existem outras situações que deveríamos para e
repensar, porque ainda pensamos que somos monocultura de eucaliptos. Quando na
verdade deveríamos discutir o que é família de uma forma global, o que
desejamos para o futuro dos nossos jovens e as condições que prepararemos em
nosso planeta para receber os novos jovens que nem ainda estão na barriga dos
seus pais e sobretudo, que formato educacional utilizaremos.
Chegaremos lá!a partir de um olhar plural sobre a nossa própria cultura,
mesmo que dentro do nosso intimo seja
tão singular e tão simplista de nossa
trajetória. Na verdade crescemos a partir das oportunidades democráticas que
fomos recebendo através de inúmeras lutas e é assim que lentamente vozes
escondidas pela história escrita pela elite surgem e clama pelo seu espaço, uma
identidade geral começou a surgir a partir das DIRETAS JÁ, mas de forma lenta e
paulatina, é no processo histórico e não pelo ritmo da globalização que devemos
mensurá-la e assim passo a passo vamos construir essa grande consciência
pautada pela virtude e a ética. Os noruegueses começaram há quase mil anos e
nós?Enfim, sejamos organizados e respeitosos como os noruegueses afinal de
contas sempre vai existir espaço dentro da nossa cultura híbrida, sem jamais nos
tornarmos uma MONOCULTURA DE EUCALIPTO.
Vamos admirar os noruegueses, aprender com os seus erros e acertos, mas,
sempre reconhecendo a nossa própria dinâmica cultura que assim como eles também
possuímos. É necessário destacar que as orientações públicas devem sempre
priorizar o tempo de longa duração na qual está enraizada a construção de
qualquer cultura e tomar cuidado com modismos passageiros da curta duração.
Marcos Paulo Campos da Costa